Mulheres em cargo de gestão

Brasília, 05 de dezembro de 2024.

Por: Lorena Ferreira Masciano 

 

A trajetória das mulheres na atividade comercial é marcada por desafios e superações, sem um início simples ou descomplicado. No século XX, durante o movimento sufragista, quando as mulheres lutavam pelo direito ao voto, elas também se inseriram em movimentos sociais que reivindicavam maior igualdade de direitos. Com o progresso da sociedade capitalista, sua entrada no mercado de trabalho tornou-se mais evidente, desencadeando mudanças significativas, como a redução da taxa de fecundidade, maior acesso à educação e o aumento do número de mulheres chefes de família.

À medida que a participação feminina na sociedade se ampliava, as mulheres enfrentaram batalhas ainda mais intensas para ocupar espaços de destaque, especialmente no mercado de trabalho, frequentemente em condições desiguais. Apesar disso, muitas conseguiram alcançar posições de relevância, mesmo diante de barreiras como a discriminação, jornadas múltiplas de trabalho e a imposição de papéis tradicionais relacionados ao ambiente doméstico e maternal.

Exemplos como Dilma Rousseff, Cármen Lúcia, Erika Kokay e Alice Portugal demonstram a capacidade de liderança das mulheres e sua resiliência ao conquistarem espaços de poder. Contudo, esse percurso poderia ser mais justo e igualitário se a perpetuação de estruturas patriarcais e machistas, profundamente enraizadas na cultura e na educação, fosse combatida de forma eficaz.

Ainda que a presença feminina em espaços públicos e de poder esteja crescendo, a desigualdade persiste. No Ministério das Relações Exteriores, por exemplo, apenas 23% dos diplomatas são mulheres, segundo a Associação das Mulheres Diplomatas do Brasil. Essa disparidade ressalta a necessidade de ações afirmativas, como políticas de cotas e incentivos, para promover a equidade de gênero nos ambientes profissionais.

Um exemplo inspirador ocorre no Sindicato Nacional dos Servidores do Ministério das Relações Exteriores (Sinditamaraty), onde a Diretoria Executiva é composta de maneira paritária, com 50% de mulheres e 50% de homens. O destaque é a liderança feminina, com a presidenta e a 1ª vice-presidenta à frente da gestão.

Órgãos públicos e privados têm o dever de implementar medidas que revertam essa realidade. Entre as ações possíveis, estão a criação de políticas robustas de igualdade de gênero, programas de treinamento voltados ao desenvolvimento de habilidades de liderança feminina e cursos obrigatórios sobre preconceito inconsciente e discriminação de gênero, especialmente para gestores.

No dia 3 de dezembro de 2024, participei de um debate promovido pelo Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília, que contou com a presença da Embaixadora e Alta Representante para Assuntos de Gênero do Itamaraty, Vanessa Dolce de Faria, e do produtor da série Borgen, Adam Prince. A série dinamarquesa é uma das poucas que retrata a política com uma mulher protagonista, mostrando a eleição de uma primeira-ministra em um cenário predominantemente masculino e machista.

O evento foi enriquecedor, com perguntas instigantes sobre a possibilidade de criar uma produção semelhante, mas com foco na política brasileira. Prince reconheceu que a complexidade política do Brasil, marcada por profundas desigualdades de gênero, raça e renda, exigiria anos de estudo e convivência para ser retratada de forma autêntica. Esse tipo de iniciativa cultural seria uma poderosa ferramenta para fomentar reflexões e mudanças em direção a uma sociedade mais igualitária.

A principal questão, tanto no contexto brasileiro quanto em cenários internacionais, é garantir que as mulheres tenham oportunidades de liderar cargos sendo autênticas como mulheres. Isso significa não apenas assegurar as mesmas condições e chances para ocupar posições de gestão, mas também valorizar e respeitar as características que trazem consigo, desmistificando a ideia de que apenas traços tradicionalmente associados ao masculino representam liderança.

O paradoxo entre vida profissional e vida pessoal evidencia debates cruciais, como maternidade, trabalho de cuidado, relacionamentos e questões emocionais. Subestimar a capacidade das mulheres de equilibrar essas dimensões é um erro simplista. Pelo contrário, é justamente essa habilidade de conciliar múltiplas jornadas que deveriam ser valorizadas. É inaceitável que trabalhos desempenhados por mulheres continuem sendo desvalorizados, seja por meio de salários desiguais ou pela falta de reconhecimento de suas contribuições.

Apesar de muitas mulheres ocuparem cargos de gestão, elas ainda enfrentam uma carga de culpa imposta pela sociedade, relacionada à sua ausência no lar ou à suposta negligência de tarefas domésticas, que historicamente foram atribuídas como sua responsabilidade exclusiva. Essa percepção perpetua desigualdades e limita a construção de um ambiente verdadeiramente inclusivo.

Portanto, cabe às empresas e ao Governo Federal implementar políticas e programas que promovam a ascensão e a permanência de mulheres em cargos de liderança. Medidas como flexibilidade de horários, opções de trabalho remoto e programas de mentoria são fundamentais. Além disso, é essencial que tanto homens quanto mulheres sejam orientados a trabalhar em ambientes onde modelos de gestão diversos, liderados por profissionais de ambos os gêneros, sejam normalizados e estimulados.

Para finalizar, deixo minhas recomendações, pois já temos no Brasil uma instituição que oferece cursos, mentorias, palestras de forma exitosa sobre a temática de gênero e mulheres na liderança: a Escola Nacional de Administração Pública (ENAP). A escola, liderada pela presidenta Betânia Lemos, promove em seu sistema Escola Virtual de Governo, cursos como “Mulheres na liderança: potencialize suas habilidades e impulsione a mudança” e é essa a mensagem que quero deixar, para que as mulheres se profissionalizem e capacitem cada vez mais e que sobrevivamos a um espaço desigual, alcançando lugares condizentes com nosso trabalho.

 

Curriculo:

Lorena Ferreira Masciano

Cientista Política formada pela Universidade de Brasília

Pós-graduanda em Jornalismo Contemporâneo e Digital pela Universidade Anhembi Morumbi – SP

Assistente Sindical no Sindicato Nacional dos Servidores do Ministério das Relações Exteriores – Sinditamaraty

Entusiasta e pesquisadora na temática de gênero – artigo “Eleições de 2022 e o tema da violência contra a mulher: uma análise das candidatas do DF à Câmara dos Deputados” publicado pela revista O Eco da Graduação.

 

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