A PF e os porquês: Serviço público sob ataque, polícia federal emparedada

Brasília, 25 de novembro de 2025

O prosseguimento das investigações pela PF e o trabalho dos servidores federais no regime de resolução do Banco Master, decretado pelo BC, levantarão novos elementos para que se possa chegar às conclusões necessárias para uma ampla compreensão

Quando, em março de 2025, o BRB, comandado pelo Governador Ibaneiz Rocha (PMDB-DF), anunciou a compra, por R$ 2 bilhões, do Banco Master, mantendo seu dono, Daniel Vorcaro, em posições de controle, o alerta amarelo, que já existia no mercado financeiro, acelerou seu trânsido para o vermelho.

Já se sabia, então, que o Banco Master pagava rendimentos muito superiores à média de mercado, apoiado na propaganda que afirmava serem seguras as aplicações por estarem protegidas pelo Fundo Garantidor de Crédito, até o limite de R$ 250 mil por CPF ou CNPJ. 

Nos anos anteriores e nos meses subsequentes ao anúncio do governador Ibaneiz, fatos registrados em processos legislativos e judiciais e/ou divulgados pela impresa, apenas alinhados, não ajudariam a elucidar por que se está tentando impedir ou dificultar o trabalho de investigação de organizações criminosas pela Polícia Federal? Esse não é um ataque ao serviço público que merece ser repelido por todas as entidades que defendem a atuação profissional dos servidores federais?

  • 2023 – 2024: Entre outubro de 2023 e agosto de 2024, o fundo de pensão Rioprevidência, dos servidores do Rio de Janeiro, autorizado pelo governador Cláudio Castro (PL-RJ), investiu R$ 960 milhões em Letras Financeiras emitidas pelo Banco Master, com vencimentos previstos para 2033 e 2034. A Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae), também subordinada a Cláudio CAstro (PL-RJ), investiu R$ 260 milhões;

 

  • 07/2024: Em julho de 2024, dois empregados da Caixa Econômica Federal emitiram um parecer técnico bloqueando a compra, pela CEF, de R$ 500 milhões em títulos de renda fixa do Banco Master porque o modelo de negócios era “de difícil compreensão” e tinha “alto risco de solvência”. Foram afastados de suas funções. A CEF é dirigida por um indicado do deputado Arthur Lira (PP-AL);

 

  • 14/11/2024: o Deputado Filipe Barros (PL-PR), li?der da Oposic?a?o na Ca?mara dos Deputados, próximo de Arthur Lira (PP-AL) e Ciro Nogueira (PP-PI) apresenta na Câmara o PL 4.395/2024 que eleva de 250 mil para um milhão de reais o valor coberto pelo FGC para cada CPF ou CNPJ;

 

  • 2025 – entre janeiro e maio de 2025: o BRB, banco estatal do DF, subordinado ao governador Ibaneiz Rocha (PMDB-DF) transferiu R$ 12,2 bilhões ao Banco Master pela compra de carteiras de crédito (posteriormente tidas como inexistentes pela justiça);

 

  • 28/03/2025: o governador Ibaneiz Rocha (PMDB-DF) anuncia a compra do Master pelo BRB por R$ 2 bilhões; o dono do Master passaria a ser o Presidente de uma nova empresa a ser criada, o BRB Participações que, em tese, poderia mandar no BRB e inclusive preparar sua privatização;

 

  • 28/08/2025: Operação Carbono Oculto: Polícia Federal investiga mil postos de combustíveis controlados pelo crime organizado; a PF também mira em 40 fundos de investimentos, igualmente controlados pelo crime organizado, sediados no que se convencionou chamar de “Faria Lima”;

 

  • 02/09/2025: nos cinco meses passados de março a setembro, houve muita especulação e ansiedade, sem que o Banco Central autorizasse a compra do Master pelo BRB. No dia 2 de setembro, o Senador Ciro Nogueira (PP-PI) articulou um pedido de urgência para a votação de um Projeto de Lei que daria poderes à Câmara dos Deputados para iniciar o processo de demissão do Presidente e Diretores do BC. O ex-presidente do BC, Arminio Fraga, afirmou ao jornal Folha de S.Paulo que nunca tinha visto uma pressão desse tipo sobre o BC;

 

  • 03/09/2025: em 3 de setembro é anunciada a decisão, unânime, da diretoria do BC, no sentido de rejeitar a compra do Master pelo BRB apontando, segundo a imprensa, riscos excessivos na operação. O pedido de urgência no PL de demissão de dirigentes do BC, articulado no dia anterior, foi largado ao esquecimento;

 

  • 16/09/2025: PEC da Blindagem 1 – Numa ação rápida e imprevista, a Câmara dos Deputados aprova a PEC 3/2021 que proíbe a PF de investigar parlamentares e presidentes de partido sem autorização dos próprios parlamentares;

 

  • 21/09/2025: centenas de milhares se manifestam contra a PEC da Blindagem, em todo o Brasil; em 24/09 a Comissão de Constituição e Justiça – CCJ do Senado derrota a PEC 3/2021 e determina seu arquivamento;

 

  • 02/10/2025: o deputado Pedro Paulo (PSD-RJ) apresenta a PEC 38/2025, da Reforma Administrativa que só em 24.10 alcançou o número mínimo de 171 assinaturas para começar a tramitar, após intenso esforço do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB); propagandeada como “combate a privilégios” a PEC, na verdade, desmonta a estabilidade funcional de servidores e desmantela o serviço público;

 

  • 28/10/2025: Operação Contenção, do governador Claudio Castro (PL-RJ), deixa 122 mortos, sendo cinco policiais com outros seis feridos em estado grave; começa propaganda pela tipificação das facções criminosas como narcoterroristas o que abriria caminho para intervenção dos EUA em território brasileiro; a pauta da segurança pública é subitamente alçada ao ponto mais elevado da conjuntura;

 

  • 07/11/2025: PL da Blindagem 2 – o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) libera seu Secratário de Segurança, Deputado Derrite, com apoio de Claudio Castro e outros, para reassumir o mandato na Câmara e relatar o PL anti-facção; Derrite apresenta um substitutivo que, numa primeira versão, proíbe a PF de investigar organizações criminosas sem autorização dos governadores de estado; em virtude da repersussão negativa o substitutivo foi sendo alterado;

 

  • 17/11/2025: Polícia Federal desencadeia a operação Compliance Zero e prende, entre outros, Daniel Vorcaro, do Banco Master;

 

  • 18/11/2025: Banco Central decreta liquidação extrajudicial do Banco Master;

 

  • 18/11/2025: em sua sexta versão, em apenas oito dias úteis, foi aprovado o substitutivo do deputado Derrite (PP-SP) ao PL das facções; segundo diversos especialistas, tal como ficou, o PL, fragiliza o combate às organizações criminosas; entre outros problemas, ele retira fundos da Polícia Federal (cerca de R$ 360 milhões anuais); rejeita a centralização nacional dos dados das façcões criminosas; dificulta o perdimento de bens de organizações criminosas pela via administrativa.

Diante dessa sequência, seria absurdo concluir que, o fracasso da tentativa de 16 de setembro de blindar parlamentares e presidentes de partido, levou a uma nova movimentação política, visando a “virar o jogo” e buscar enfraquecer as capacidades da Polícia Federal para investigar o crime organizado, de maneira independente?

Escancaradas e ousadas, tais movimentações levantam inevitavelmente a questão: quem e por que está interessado nisso?

O prosseguimento das investigações pela Polícia Federal e o trabalho dos servidores federais no regime de resolução do Banco Master, decretado pelo BC, certamente levantarão novos elementos para que se possa chegar a todas as conclusões necessárias para uma ampla compreensão.

* Edison Cardoni é diretor da Condsef/Fenadsef e servidor aposentado do Banco Central