Associação Nacional dos Agentes de Polícia do Ministério Público

A Primavera Mulheril – por Leonina Fontes

Brasília, 18 de novembro de 2024.

 

Durante muito tempo, foi ensinado as mulheres em toda a sua diversidade que funções relacionadas a poder e decisão eram destinados as masculinidades e ratificadas pela  religião cristã, que invertendo a natureza lógica da gestação apresentava o “mito da costela de adão” para justificar os motivos pelos quais as mulheres deveriam ser submissas, conformadas, dóceis e dedicadas as funções de cuidado: nascida a partir da “doação de um órgão masculino”, as mulheres deveriam ser gratas e organizar sua vida a partir das vontades e desejos dos homens. Assim, nasceu o mito do “sujeito universal” ao qual todos os outros deveriam se sujeitar: homem, branco, cristão, heterossexual e rico, a qual todas as outras identidades devem se submeter as regras, normas e leis pensadas, organizadas e cristalizadas a partir da ótica feminina, e, também foram justificadas durante muito tempo todas as desumanidades e assujeitamento cometido contra o existir feminino. A violência doméstica, o crime de honra, a proibição de frequência as escolas, a “permissão” necessária do marido para o trabalho doméstico e até mesmo a “honra” da família estava no fato da mulher se anular em todas as suas vontades para conforto e segurança da existência masculina.

A Primavera é a estação do ano que indica florescimento após um processo de semeadura, resiliência e renascimento. Ele acontece com regularidade e independente de vontade, em que se pese as possíveis dificuldades que o inverno agrega aos biomas e pessoas. As Mulheres estão vivendo sua primavera após um longo período de semeadura e resistência “empurrando” suas famílias para frente. A Primavera Mulheril, a exemplo de outros fenômenos sociais acontece com alguns séculos de atraso: no continente norte americano pós abolição, a primeira geração trabalhou na terra, a segunda geração trabalhou com a técnica e ganhou dinheiro e a terceira geração iniciou a luta pelos direitos civis para ir a escola e tomar posse do conhecimento, a única estratégia eficiente de emancipação.

Estamos na Primavera, e, diante da reflexo apresentada e dos pontos de atenção destacados a partir do Anuário da Segurança Pública de 2024, e neste entendimento do conceito de feminismo negro que acolhe e abarca pessoas a partir do empoderamento pela oportunidade e resgate dos direitos se contrapondo a privilégios, ratificamos que Primavera das Mulheres é esse período em que mulheres pretas e brancas pobres mais uma vez se apossam do protagonismo das ações e pautam estratégias de resistência: não aceitam mais ser as únicas em seus espaços e lutam para que outras se agreguem ´possibilitando avanços significativos. Primavera das Pretas são as Abayomis em Pernambuco, o GEPEA Audre Lorde em Porto Velho, o Legesex no Rio de Janeiro. O que essas coletivas têm em comum? O desejo de que a interseccionalidade deixem de definir os espaços que as mulheres chegarão para além de sua identidade de gênero.

Assim a proposta deste evento é promover um diálogo sobre processos de resistências mulheris contemporâneos.

Defendemos que vivências mulheris não podem e não devem ser abjetas, hiperssexualizado, reduzidas a corpos ou objetos que apenas sirvam a produção e retroalimentação do capital. Queremos ter direitos e não privilégios, honrar Tereza de Benguela e ombrear o acesso a espaços de poder como estratégia para assunção e defesa de nossas existências. Não basta mais ter uma voz em cada espaço: é preciso representação numérica que nos permita encharcar de cidadania vidas invisibilizadas.

Sim, precisamos de mais mulheres pretas em espaços de poder, já que ao longo dos tempos elas têm cuidado dos seus, limpado, organizado, resistido, estudado e avançado em comunidade. Em meio a todas as ausências, têm alavancado gerações. Também, elas cuidaram para que o mundo estivesse organizado e limpo. Agora, é hora de organizar o mundo para que sejam lembradas para além de datas e passem, finalmente, a bem existir.

 

REFERÊNCIAS

CARNEIRO, Sueli. Escritos de uma vida. São Paulo: Pólen, 2019.

HILÁRIO, Rosangela Aparecida. O feminismo negro como estratégia para assunção de direitos de mulheres preta e periféricas. Ensaios Filosóficos. Rio de Janeiro, 2019. 40-57.

_________________________.O Feminismo e o feminino na academia: memórias, resistências e protagonismos. IN: Feminismo, Pluralismo e Democracia. CAMARANO, Alessandra. Mesquita, Arlete. Souza, Karlla Patricia.(org.), 2019. 413-428.

 

Currículo:

Leonina Fontes. Com uma trajetória de 30 anos no setor de eventos corporativos, esta profissional consolidou-se como uma referência na área, liderando a execução de mais de 10 mil eventos de médio e grande porte. Como CEO de dois renomados centros de eventos em Brasília, demonstrou expertise em planejamento estratégico, gestão operacional e inovação no segmento.

Ao longo de sua carreira, coordenou eventos de alto impacto, incluindo conferências, convenções empresariais, feiras e lançamentos de produtos, atendendo às necessidades de grandes corporações e instituições públicas. Sua liderança garantiu a entrega de experiências impecáveis, alinhando qualidade, eficiência e resultados para seus clientes.

Reconhecida por sua visão estratégica, supervisionou projetos complexos, implementou soluções personalizadas e adaptou-se às demandas de um mercado dinâmico, estabelecendo um padrão de excelência que contribuiu para o sucesso de milhares de eventos realizados sob sua direção.




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Tel: (61) 99880-6957


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