CONSEQUÊNCIAS EMOCIONAIS DO ABUSO SEXUAL EM CRIANÇAS

Brasília, 02 de maio de 2025.

Antes de abordarmos o que a ciência explica sobre os danos e consequências psicológicas, emocionais, cognitivas e sociais que a vítima de abuso sexual na infância sofre, vamos entender o que de fato as literaturas do mundo e a ciência entende sobre o que é abuso sexual.

Definição:

O envolvimento de crianças e adolescentes dependentes em atividades sexuais com adulto ou com qualquer pessoa um pouco mais velha, maior, em que haja uma diferença de idade, de tamanho ou de poder, em que a criança é usada como objeto sexual para gratificação das necessidades ou dos desejos, para qual ela é incapaz de dar um consentimento consciente por causa do desequilíbrio no poder, ou qualquer incapacidade mental ou física.

Incorporado nessa definição estão todos os tipos de encontros sexuais e comportamentos que abrangem aliciamento sexual, linguagem ou gestos sexualmente sugestivos, uso de pornografia, voyeurismo, exibicionismo, carícias, masturbação e penetração com os dedos ou pênis. Ela inclui quaisquer atos sexuais impostos à criança ou ao adolescente por qualquer pessoa dentro do âmbito da família, ou fora dela, que abuse de sua posição de poder e confiança.

Essa definição incluir quaisquer crianças e adultos que tenham poder sobre elas e em que depositem confiança. Dentro da família, isso inclui pai, mãe, padrastos, madrastas, amigos residentes homens/mulheres da família, tios, tias, irmãos, irmãs, irmãos adotivos, avós, primos e todas as outras combinações de parentes homens e mulheres na família ampliada. Indivíduos fora da família incluem adultos homens e mulheres, ou colegas mais velhos, que sejam in loco parentis e, assim, tenham autoridade e poder sobre a criança, tais como babás, funcionários de creches, professores, técnico de esportes, autoridades religiosas e aqueles que cuidam de crianças para instituições. Também inclui outras pessoas da comunidade que possam ou não ser conhecida da criança, tais como vizinhos, donos de lojas e demais moradores e trabalhadores da redondeza.

“O abuso sexual em crianças pode ser violento, mas a maneira pela qual é infligido não envolve violência nenhuma. A maioria dos abusos sexuais implica uma lavagem cerebral sutil da criança, que é recompensada com agrados ou com mais amor e atenção ou, ainda, subornada para se manter quieta” – Survivors Swindon, Organização de auxílio a adultos sobreviventes do abuso sexual quando crianças.

 

O abuso sexual em crianças pode variar consideravelmente, que o abuso sexual em crianças tem um impacto emocional é algo inquestionável, sobretudo, quando o abuso acontece por alguém de dentro da família, a pessoa que teoricamente deferia “proteger”.

Quando afeição abuso sexual, amor e sofrimento estão entrelaçados, a realidade parece distorcida, criando ilusões e percepções erradas. Muitas crianças sentem-se incapazes de confiar em suas próprias percepções sobre o que é e o que não é apropriado. Elas não conseguem mais confiar em si mesmas, quanto mais em qualquer pessoa. Tornam-se confusas sobre como se sentir, se devem ouvir a mágoa e a dor internas ou se devem “curtir” o abuso porque é isso que o abusador deseja.

Essa confusão pode ter grandes efeitos danosos sobre a criança tanto a curto quanro a longo prazo. Dúvida e incerteza, medo e embaraço, culpa e vergonha são coisas que impedem a criança de ir em busca daqueles que poderiam protegê-la, demorando mais tempo para essa criança se livrar dos abusos e da dor. Para encobrir a vergonha, ela se esconde, se afasta dos companheiros e evita intimidade com outros adultos por medo de que o “segredo” lhe escape. A solidão e o isolamento reforçam o terror, tornando-a mais dependente do abusador. A criança se sente em uma armadilha sem escapatória, condenada a suportar o abuso sexual até ser grande o suficiente para escapar. Esse comportamento é um dos impactos que toda criança que é abusa sexualmente sofre, até que tudo venha ser revelado e descoberto, essa criança sofre abusos silenciosos e ocultos, até mesmo antes do ato da penetração. O abuso sexual começa a partir do aliciamento para que mais tarde essa criança seja penetrada.

Pesquisas mais recentes ( Teicher, 2020 ), com uso de técnicas de mapeamento visual do cérebro, indicam que o estresse na infância precoce, um fator do abuso sexual em crianças, pode causar dano permanente à estrutura neural e à função do cérebro em desenvolvimento, deixando uma marca indelével.

Se a abuso ocorre durante períodos críticos de formação, quando o cérebro está sendo fisicamente moldado, isso induz a efeitos moleculares e neurobiológicos em cascata que, inevitavelmente, alteram o desenvolvimento neural. Segundo a Neurociência, a região responsável pela regulação emocional começa amadurecer a partir dos 3 anos de idade e só se completa aos 25 anos de idade, essa região é chamada de córtex pré-frontal. Maus tratos em uma idade precoce podem ter efeitos negativos duradouros no desenvolvimento e na função do cérebro de uma criança. O estresse molda o cérebro para exibir vários comportamentos anti-sociais, ainda que adaptativos.

Pesquisas sobre distúrbio de identidade dissociativa – Dissociative Identity Disorder – DID, combinadas com dados clínicos sugerem que, quando mais tenra é a idade em que a criança é abusada, mais provável é que ela faça uma dissociação e desenvolva uma amnésia psicogênica. A dissociação é definida como “distúrbio ou alteração na funções normalmente integrativas de identidade, memória ou consciência” ( DSM IV ).

O trauma se torna ainda maior quando esse abuso sexual é cometido por pessoas que possuam laços de sangue, quanto mais próxima a relação entre criança e o abusador, mais a criança se sentirá traída. A representação da figura paterna ou materna para uma criança é de confiança, amor, segurança, amparo e segurança. Quando essa relação é quebrada de alguma forma, a criança se sente sozinha, rejeitada, desamparada, não pertencente, pois aqueles que deveriam dar proteção, foram os que trouxeram dor e traumas.

Para muitas crianças, é extremamente difícil revelar o abuso sexual, principalmente se o abusador estiver em contato diário com essa criança. No entanto, as crianças podem tentar comunicar suas experiências de maneiras mais sutis, como por meio do comportamento ou dos trabalhos artísticos com desenhos, o que requer uma sensibilidade e um entendimento em relação ao que a criança pode estar se esforçando para comunicar não verbalmente.

Através da Neurobiologia, pesquisadores utilizando técnicas de neuroimagem e estudos psicofisiológicos que medem a função autônoma, a reatividade ao medo e a atividade elétrica cerebral, que destaca as estruturas cerebrais e o funcionamento desse órgão, demonstraram o quanto o estresse em idade precoce pode ativar mudanças significativas no desenvolvimento do cérebro. A área específica implicada é o sistema neuroendócrino, que consiste no eixo hipotálamo-pitunitária-supra-renal e outros eixos neuroendócrinos e o funcionamento neuroquímico, especialmente catecolaminas, serotonina e outros neurotransmissores.

A principal área do dano parece estar no desenvolvimento do sistema límbico, esse sistema é um conjunto de núcleos ( centros neurais ) cerebrais interligados que desempenham um papel central na regulação das emoções e da memória, particularmente o hipocampo e as amígdalas, ambos situados abaixo do córtex no lobo temporal. O Hipocampo é importante na formação e recuperação de lembranças verbais e emocionais, que são críticas para memória declarativa. O hipocampo avalia e classifica eventos recebidos.

O impacto das respostas de estresse cria problemas na regulação e na modulação da emoção, afetando a interação da criança com os outros. Além dos efeitos cognitivos, o desenvolvimento psicológico da criança também pode ser afetado em termos de formação, armazenamento, consolidação e recuperação de memória. Sem dúvida, a criança experimenta uma grande quantidade de ansiedade, que pode ser reencenada. Quando ansiedades internas estão combinadas com interrupções no funcionamento cognitivo, a criança é impedida de desenvolver um sentido organizado do eu. Essa “falha” de mentalização inibe auto-representações unificadas e cria descontinuidade no desenvolvimento do deu da criança.

Muitos desses fenômenos estão implicados em uma variedade de distúrbios psiquiátricos, em particular o distúrbio de estresse pós-traumático, transtorno do déficit de atenção e hiperatividade e distúrbios de conduta, assim como distúrbio de personalidade anti-social. Enquanto alguns desses podem se manifestar na infância, outros podem não vir à tona até a idade adulta, como depressão, abuso de substâncias, automutilação, distúrbio de personalidade limítrofe, distúrbios dissociativos e distúrbio dismórfico corporal. É possível ainda afirmar que os danos causados pela abuso sexual em crianças também inclui a dificuldade de aprendizado e memória, devido ao estresse intenso que ativa o sistema supra-renal e o cortisol, em especial o eixo HPA, assim como o sistema noradrenérgico.

Esses danos causados pelo abuso sexual em crianças podem apenas alertar o adulto sobre a dor e a perturbação da criança, mas é indiscutível que os danos causados por essa violência são infinitamente maiores que se estendem para vida toda .

Por Tatiana Klock Martins Aguilar

 

Currículo:

Tatiana Aguilar

Neurocientista Clínica, Perita Criminal em crimes sexuais ,Analista do Comportamento, Especialista em Perfilamento Criminal, Pós Graduada em Ciências Forenses e Perícia Criminal, Colaboradora do Sindicato do Ministério Público da União, Pós Graduada em Educação Emocional e Sexual Contra Abuso Sexual da Criança e Adolescente, Pós Graduada em Transtornos, Especialista em Mulheres Autistas Adultas, Criadora do método ABA Prática ,Orientadora Parental, Terapeuta de Mulheres, Especialista Clínica do Emocional Masculino, Facilitadora Emocional, Educação inclusiva, Practitioner em Programação Neurolinguística ( PNL )