Associação Nacional dos Agentes de Polícia do Ministério Público

Mulheres no Poder

Brasília, 29 de janeiro de 2025.

(De Leopoldina à Lobby do Batom)

Memoricídio ou história não contada?

Sempre que uma mulher se encontra mediante a situação de ocupar um espaço de poder e comando, ela traz consigo toda uma demanda de possibilidades que justificam sua luta, coletividade e representatividade. A conquista se estabelece não apenas pelo o poder propriamente dito, o que se pretende na verdade, é a garantia do seu direito e, poder defender suas ideias e necessidades que são inerentes ao SER mulher. Participar, opinar, tudo isso configura os objetivos à serem alcançados e, assim, promover a igualdade e o respeito.

A trajetória é marcada quando ela consegue superar os “ditames” sociais, princípios supostamente morais que, condicionam o “bom” andamento social. 

“…nada nos foi dado, tudo foi conquistado” (UP)

            Despertar para este  debate inevitavelmente, nos remete   aos fatores que pautaram  e influenciaram o lugar que compete a homens e mulheres na sociedade hoje porém,  a história não conta, ou melhor, não destaca, as grandes decisões tomada por mulheres , quando se viram na oportunidade de decidir com coragem e ousadia, e assim, o fizeram, mudando o destino de nossas vidas até hoje.

Maria Leopoldina, Imperatriz do Brasil, arquiduquesa da Áustria, primeira esposa de D. Pedro I, foi quem articulou e agregou forças para que o Brasil se tornasse independente e, só depois de assinar a “carta da Independência”, manda avisar a seu marido, D. Pedro I, que viajava para São Paulo e, em ato cívico e simbólico, brada para o mundo que, a partir daquele instante o Brasil era um reino, autônomo e independente.

Enquanto isso, Maria Quitéria se traveste de homem para lutar e defender o Brasil de tropas portuguesas.

Quando Nísia Floresta Brasileira Augusta, (1810 – 1885), diz:

“…não só ao homem cabe a razão, a diferença vem, pois, pela educação!”

A luta é para que a mulher tenha acesso ao conhecimento e, só assim, poder participar de fato e de direito, das decisões dentro da sociedade onde ela vivia. Criou a primeira escola para mulheres no Rio de Janeiro contra tudo e contra todos e, dona de um comportamento atípico e vanguardista, passa a ser considerada uma ameaça social, como toda e qualquer mulher dessa época que ousasse se destacar de algum modo. a submissão era uma constante. .

A própria Alzira Soriano (Lajes/RN 1928),  primeira mulher eleita no Brasil e América Latina a ocupar um cargo político, por trás dessa ideia Berta Lutz, trazendo e provando ideias inovadoras, ela Alzira, viúva e mãe de família já gerenciava sua fazenda no Jardim de Angicos com muita competência e maestria, com isso cuidava de sua família, sendo mulher isso chamava atenção,  o que não era normal para época.  Teve sua gestão sufocada pelos poderosos políticos machista, sem poder continuar passou apenas um ano no cargo.

Celina Guimarães Mossoró/RN, 1928, primeira mulher a ter direito ao voto feminino e, desta forma, ter o direito de poder escolher seu representante, só o fez mediante cumprir várias exigências, uma das principais era ser casada e ter a autorização de seu marido e tutor.

Como é viver sob a égide de um

Código ´de Leis civil onde a mulher é considerada INCAPAZ?

Como viver sem ter acesso a educação?

Como é viver numa sociedade onde você não participa das decisões?

Como é viver sem ter o direito de escolher quem lhe representa?

            Pois muito bem, até bem pouco tempo, o Código Civil brasileiro, de 1916 a 2002, trazia a mulher como um ser incapaz e totalmente dependente  do  pai ou por conseguinte, do marido, sem o direito se quer de decidir sobre sua própria vida; trabalhar, casar, estudar, viajar, ter filhos, etc.

            Deste modo, a ela não era dado o direito a estudar, a votar, os casamentos arranjados e sim, para o resto da vida, pois não podiam separar, trabalhar, somente com a autorização do marido e, tantas outras imposições de senhores patriarcais, os quais, direcionavam os destinos da sociedade.

            No transcorrer da história, somos atravessados por um processo de atualização de leis que culminam com a promulgação da Nova Constituição brasileira. Neste contexto, vamos ter um movimento de grande importância para nós mulheres, que até então, não eram reconhecidas como cidadã.

A Lobby do Batom, um movimento feminino (1987 – 1988), que ocupou os corredores do Congresso Nacional, durante o processo de elaboração da nova constituição brasileira, se uniram a mulheres parlamentares, independente da política partidária, com o objetivo de ampliar e garantir os direitos das mulheres numa Carta Magna mais democrática e inclusiva e,  assim naquele universo de maioria masculina era preciso expressar força política,  ousadia e poder.

Pouco se sabe à respeito desse movimento, onde 26 mulheres, Deputadas federais e Senadoras, formaram a bancada feminina, que defendeu a pauta de mulheres, até então, invisibilidades perante a sociedade. Somente uma mulher compreende a necessidade da outra, um homem jamais o fará com propriedade, por isso a importância de mulher representar mulher, deste movimento herdamos entre outras coisas, a criação do Conselho Nacional da Mulher, Licença maternidade, entre outras conquistas.

            Porque (os homens), se interessam em nos separar das ciências a que temos tanto direito como ele, ou mesmo nos excedamos na administração dos cargos públicos, que quase sempre tão vergonhosamente desempenham? (Nísia Floresta).                                              

Importante observar que esta ocupação já se dar a bastante tempo, e não acontece numa situação de competição com o homem ou, meramente comprovar superioridade, seria um erro basear todas as conquistas femininas nesta perspectiva. Não reconhecer ou destacar é o erro.

            Estar ou ocupar um espaço de poder e ou, representatividade, tem a ver com o desenvolvimento humano!  Infelizmente, a trajetória que a mulher faz para alcançar este lugar é árdua e muitas vezes, injusta, assim, faz-se necessário   lutar, competir, conquistar.

A história comprova que as mulheres em muitos momentos, ocupam sim o espaço da decisão, porém, não são reconhecidas. Se traçarmos uma linha de tempo para ilustrar a evolução da sociedade, nós vamos encontrar sempre uma mulher em posição de decisão mas, pelos preceitos  sociais, isso não é destacado, talvez para não atribuir à mulher o papel de heroína, de  força ou de poder e, assim é repassado de geração em geração, feito cultura enraizada que vem moldando desde os tempos mais antigos os conceitos e comportamentos sociais. Deste modo, a mulher passa pela história sem ser notada, vítimas do memoricídio, sem que lhe seja dado o devido valor.

A sociedade caminha, a luta é uma constante e, é preciso que se compreenda que essa realidade não vai se modificar amanhã ou depois, isso nos dar a plena certeza que vivemos hoje em busca de mudanças que só irão acontecer décadas adiante, e é racional continuar.

 

Natal/RN, 28 de janeiro de 2025

 

Célia Maria Lins de Melo

 Sub tenente PM R1

 

Célia Maria Lins de Melo
Bacharela em História UFRN
Licenciada em História UFRN
Sub Tenente R1 PMRN
Lattes 9545897221972695
Sócia Fundadora da Academia Potiguar de História e Cultura Militar(APHICUM)
Atriz
Poeta/cordelista
Contadora de Histórias
[email protected]

Associação Nacional dos Agentes de Segurança Institucional do MPU e CNMP
Tel: (61) 99880-6957


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