Associação Nacional dos Agentes de Polícia do Ministério Público

OS FANTASMAS DA REFORMA ADMINISTRATIVA

Brasília, 26 de outubro de 2021.

Publicado originalmente no site do Vladmir Nepomuceno.

Apesar de há quase um mês de aprovada na Comissão Especial e sem votos para aprovação em plenário, os defensores da reforma administrativa ainda não desistiram.

O isolamento de Lira

Mais uma vez, agora em entrevista à revista Veja, repercutida pelo jornal Folha de São Paulo na segunda-feira, 18 de outubro, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP/AL) reclamou da falta de esforço do governo para aprovação da reforma administrativa, a PEC 32/20. Além do governo, Lira também reclama da falta de apoio de outros atores, tão responsáveis pela reforma administrativa quanto o governo: a imprensa e o que ele chama de “setores”, que bem sabemos se tratar do mercado financeiro.

“Falta tudo, falta mobilização de quem defende, falta o governo agir mais fortemente com relação à (reforma) administrativa e falta a gente ter apoio de setores, e a imprensa é muito importante nisso, para se esclarecer”, disse Arthur Lira à revista Veja, segundo a Folha.

Mais adiante, na mesma matéria, o presidente da Câmara, assumindo que decidiu sozinho seguir a tramitação da reforma, inclusive usando de inabilidade ao forçar a substituição de membros da comissão especial, diz: “Eu posso dizer que o governo federal está fazendo esforço em relação à reforma administrativa? Não está. Foi uma decisão do Congresso em tocar, em andar, em desenvolver”.

A matéria também tem dois pontos que chamam atenção. O primeiro é o reconhecimento da dificuldade de votação ainda este ano, devido à falta de votos favoráveis ao texto em número suficiente para aprovação e à proximidade cada vez maior das eleições de 2022, onde além do presidente da república, estarão sob escrutínio cem por cento das vagas para a Câmara dos Deputados e um terço das vagas do Senado Federal.

Ministério da Economia vai tentar “contornar” a PEC da reforma administrativa

A outra questão, não menos importante, é o monitoramento que estaria sendo feito pelo Ministério da Economia, representante do mercado financeiro nesse condomínio que é o governo Bolsonaro, que, defendendo a aprovação do que chamam de “estrutura principal do texto”, “avalia a possiblidade de retomar por meio de MP (medida provisória) pontos da proposta que ficarem pelo caminho”.

Leia a matéria da Folha de São Paulo aqui

As negociações prosseguem

Já o deputado Fernando Monteiro (PP-PE) em entrevista publicada no site O Brasilianista, na terça-feira, 19 de outubro, disse que estaria sendo feita uma “costura” para votar a PEC 32/20 em plenário. Disse também que acredita que “a partir do dia 20 de outubro para o começo de novembro, a gente já começa a ver o dia de levá-la ao Plenário”.

Questionado sobre a chance de votar a PEC, entre baixa, média ou alta, o deputado Fernando Monteiro, que presidiu da comissão especial que analisou a PEC 32, se declarou animado e acha que a chance de votar a PEC em plenário ainda este ano seria média.

Quanto às dificuldades, o deputado Fernando Monteiro disse que a principal resistência estaria no artigo 37-A (que libera a entrega de praticamente todo o serviço público à iniciativa privada). Disse ainda o deputado que se declara contrário a esse artigo (37-A) e que, segundo ele, poderia ser retirado. Com isso, segundo o parlamentar, haveria a possibilidade de acordo, o que facilitaria, na sua opinião, a votação da reforma administrativa em plenário. Esperamos não precisar conferir.

Leia a entrevista de Fernando Monteiro à Arko Advice aqui

O jogo ainda não está ganho, nem perdido

O que se pode depreender das duas entrevistas, mais o que diz a Folha de São Paulo, é que negociações com vistas a levar a PEC 32/20 ao plenário da Câmara existem. Seja com as cobranças de Arthur Lira em relação à falta de apoio do Executivo, o autor formal da proposta, seja questionando a ausência de empenho dos representantes do mercado financeiro, ou através das conversas com parlamentares na Câmara dos Deputados, como afirma o deputado Fernando Monteiro. As bases dessas negociações não estão claras para o público, mas que existem, existem.

Outro ator que merece ser acompanhado de perto é o Ministério da Economia, que, segundo a matéria da Folha, pretende usar de meios infraconstitucionais, como MPs, por exemplo, para fazer avançar o desmonte do serviço público.

Também merecem atenção as jogadas oportunistas dentro do próprio Congresso, como a tentativa de aprovar na Câmara, sem chamar atenção, projetos como o PL 6047/16, de autoria da Comissão Especial para o Aprimoramento do Pacto Federativo 2015, do Senado Federal, que havia chegado à Câmara em 2016 e propunha a obrigação de contratação de temporários em contratos de gestão da administração pública. Felizmente o projeto foi rejeitado pela Comissão de Trabalho, Administração e Serviço Público da Câmara dos Deputados.

Leia a matéria sobre a rejeição do PL 6047/16 aqui

O que fazer

Por via das dúvidas, o melhor a fazer, no momento, é seguir a pressão aos deputados em suas bases eleitorais e nos aeroportos dos estados e de Brasília, a fim de garantir que a PEC 32/20 não vá a plenário este ano, o que garantiria a não votação até as eleições do próximo ano.

Junto a isso, as entidades precisam, independente da tramitação da PEC 32/20, montar um processo de acompanhamento das ações do governo, em especial do Ministério da Economia, além de acompanhar a tramitação de proposições nas duas Casas do Congresso Nacional que possam, de alguma forma, contribuir para o projeto de desmonte dos serviços públicos.

Em se tratando de reforma administrativa, é ficar com um olho no peixe e o outro em vários gatos.

Vladimir Nepomuceno

link:
http://contrapec32.com.br/?p=925

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Tel: (61) 99880-6957


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